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Padaria britânica transformou croissants excedentes em cerveja artesanal premiada através de um processo simples de fermentação.

Homem cozinha em panela grande numa cervejaria; mulher ao lado com copo de cerveja. Pão e farinha na mesa.

Dourados, folhados e desprezados, os croissants de ontem amontoam-se numa pilha macia que ninguém quer comprar. O padeiro odeia deitá-los fora; o caixote do lixo odeia recebê-los. Então, numa noite de inverno, um amigo de uma microcervejeira pega num croissant, cheira-o e ri-se: “Isto é açúcar de smoking.” Uma semana depois, a padaria cheira menos a massa folhada e mais a compota de laranja e malte. Algo está a acontecer nos tanques. Algo com gás.

Da primeira vez que os vi verter o “chá” de croissant para um fermentador de aço, pareceu errado e muito certo ao mesmo tempo. O vapor subia, transportando uma doçura torrada, como se o pequeno-almoço de domingo tivesse ido parar a uma cervejaria artesanal. Um padeiro estava ao lado com uma pá de madeira, de braços cruzados e a sorrir, como se tivesse descoberto um truque para a cadeia de abastecimento. Era meio cozinha, meio laboratório. E ninguém conseguia desviar o olhar. Depois, a válvula de ar começou a tilintar.

Dos restos da pastelaria ao copo premiado

Toda a padaria luta contra o tempo. Os croissants atingem o auge ao amanhecer e perdem o encanto ao final da tarde. Esse declínio lento custa dinheiro e moral, especialmente quando os excedentes se amontoam em sacos. Esta padaria chegou ao ponto em que a prateleira de “véspera” parecia um confessionário. Então fizeram algo quase atrevido: transformaram os croissants extra em cerveja. Não foi só uma experiência, mas sim uma pale ale fresca e equilibrada que acabou por ganhar um prémio regional. A pastelaria que não se vendia às 16h começou a esgotar às 19h, mas em copo.

No primeiro dia de produção completa, trituraram os croissants em migalhas grossas, mexeram com malte pálido e mantiveram o mosto quente enquanto as enzimas faziam calmamente o seu trabalho. O lote rendeu pouco mais de 300 litros. Engarrafaram metade, colocaram o resto em barril, e puseram um quadro de giz no balcão com uma linha simples: “Croissant Ale à pressão.” Os clientes riram, depois pediram dois. Os barris desapareceram num fim de semana. Um mês depois, uma prova cega descreveu-a como “limpa, ligeiramente adocicada e surpreendentemente elegante.” O caixote do lixo ficou vazio.

Há ciência por trás da magia. Os croissants são feitos principalmente de amido, laminados com gordura e dourados pela reação de Maillard. Num mosturador a cerca de 65°C, as enzimas amilase cortam esses amidos em açúcares de que a levedura se alimenta. A gordura complica, mas também transporta sabor—torrada, amêndoa e um toque de caramelo. Com a proporção certa e uma mosturação paciente, a pastelaria transforma-se. A levedura consome o açúcar, liberta CO₂ e álcool, e a cerveja termina seca o suficiente para ser refrescante. Um problema transforma-se num trunfo servido ao copo. Parece quase um truque de ilusionismo.

O truque simples de fermentação que qualquer um pode aprender

O método lê-se como uma receita amiga, não um mistério. Seque os croissants lentamente no forno—cerca de 100°C—até estarem suficientemente crocantes para esfarelar. Triture até migalhas grossas. Aponte para 20–30% de croissant no grist, o resto malte base. Faça a mosturação entre 64–66°C durante 60 minutos. Acrescente uma pitada de amilase se quiser, especialmente se os croissants forem densos ou enriquecidos. Filtre gentilmente, depois ferva como habitual com um lúpulo cítrico e fresco. Fermente a frio com uma levedura de ale fiável. E está feito.

A manteiga traz sabor, claro, mas também lipídios que podem achatar a espuma. Tostar os croissants ajuda. Fazer a mosturação com cascas de arroz evita uma cama pegajosa. Com a proporção certa, o mosto sai suficientemente límpido. Mire uma densidade inicial entre 1.046–1.050 para obter uma graduação final de 4,8–5,2% ABV. Todos já provámos uma cerveja “fora da caixa” que parecia uma aposta. Esta não é assim. Tem tendência para o malte com um lúpulo cítrico a dar brilho, sugerindo pastelaria sem cair no exagero das pastry stouts. Sejamos honestos: ninguém faz isto todos os dias.

A limpeza pode fazer a diferença, por isso trate o seu equipamento como um kit cirúrgico. Remova qualquer gordura visível durante a fervura. Considere um curto repouso proteico se a mosturação parecer pegajosa. Um toque de cloreto de cálcio firma o corpo e realça o doce do malte. Pequenos ajustes, grande serenidade no copo.

“Não queríamos uma moda passageira”, disse-me o chefe de padeiros. “Queríamos uma cerveja que as pessoas pedissem duas vezes. Os croissants só nos ajudaram a contar uma história melhor com menos desperdício.”
  • Croissants ricos em manteiga: torre-os secos para domar os lípidos.
  • Fermentação simples: mantenha a mosturação a 65°C e deixe as enzimas fazerem o resto.
  • Cerveja premiada: procure o equilíbrio, não uma sobremesa líquida.

O que mudou—e o que isto insinua

Eis o impacto inesperado: a equipa começou a ver os excedentes como ingredientes, não como vergonha. Os padeiros pesavam, registavam e congelavam os croissants de véspera para o dia de produção. O cervejeiro planeava lotes de acordo com o tempo e o fim de semana. A comunidade parava para encher garrafões depois de ir buscar os miúdos à escola. A cerveja não só evitava desperdício; mudou hábitos. Fez a loja entrar num pequeno círculo de criadores que usam ontem para financiar o amanhã, discretamente prático e um pouco romântico. O prémio soube bem. O novo ritmo soube melhor. Sentia-se o alívio no ar.

Ponto chaveDetalheInteresse para o leitor
— Secar, triturar, mosturar a ~65°C com 20-30% croissant — Método claro e replicável, em casa ou numa microcervejeira
— Tostar os pastéis para gerir lípidos e melhorar a retenção de espuma — Melhor espuma, sensação de boca mais limpa, menos sabores indesejados
— Equilibrar lúpulo e malte para um final seco e refrescante — Uma cerveja que vai querer beber novamente, não só experimentar uma vez

Perguntas Frequentes:

  • A cerveja de pastelaria sabe a sobremesa? Não necessarily. A maior parte do amido da pastelaria converte-se em açúcar fermentável, e a levedura deixa-a seca. Fica um leve toque de brioche, não de bolo.
  • A manteiga não estraga a espuma? Pode estragar. Torre os croissants, retire óleos visíveis e use casca de arroz. Com estes passos, a retenção de espuma mantém-se surpreendentemente bem.
  • Que levedura é melhor? Uma levedura inglesa ou neutra para ale. Deve destacar o malte e o subtil da pastelaria, não esteres intensos.
  • É legal vender isto? No Reino Unido, sim—se tiver licença para produzir e vender álcool, e cumprir as regras de segurança alimentar. Usar excedente de padaria não muda a licença.
  • Os caseiros podem tentar isto na cozinha? Sem dúvida. Comece pequeno: 5–10 litros, 25% croissant, um só lúpulo como Cascade ou Ekuanot. Tome notas, ajuste, produza novamente.

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