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O renascimento do tricot: como uma arte ancestral de 2.000 anos se tornou a maior aliada da saúde mental da Geração Z.

Mulher tricota com gorro verde num comboio; pessoas conversam nos bancos opostos.

Não como um ornamento pitoresco, mas como uma intervenção diária quando o cérebro não abranda. As agulhas tilintam, as laçadas sobem, e o ruído desvanece o suficiente para se poder respirar.

A rapariga à minha frente na Linha do Norte está a tricotar um gorro verde-lima. Tem, no máximo, 20 anos, o telemóvel virado para baixo, auriculares a pender, as mãos a moverem-se com aquela confiança suave e metronómica que só se aprende com a prática. Duas paragens depois, outro passageiro pergunta qual o padrão que ela está a usar. Alguém sorri como se se tivesse acabado de lembrar de uma receita de família.

Lá fora, a cidade está sintonizada para o urgente. Dentro da carruagem, há um pequeno espaço sem pressa, sem feeds, sem atuação. Ela conta os pontos em surdina, e um universo minúsculo mantém-se estruturado. Algo no ritmo funciona.

Porque é que as agulhas vencem as notificações

Tricotar exige contacto visual com as próprias mãos. Num mundo de deslizar e rolar o ecrã, isso é uma exigência radical. Há cor, textura, peso—o tipo de informação sensorial que lembra a um cérebro ocupado onde está o corpo.

Repara numa mesa de estudantes às 16h: sacos a transbordar novelos, canecas a embaciar janelas frias, todos um pouco menos irritadiços. Uma jovem de 21 anos em Manchester disse-me que trocou o doomscrolling por 30 minutos de tricot depois das aulas, e dorme melhor nessas noites. A investigação sobre trabalhos manuais repetitivos há muito que associa o tricot a menos stress e melhor humor, e essa tendência nota-se em encontros, associações universitárias e noites de tricot informais por todo o Reino Unido.

A ciência não é mística. A repetição ativa o sistema nervoso parassimpático. Mãos ocupadas, pensamentos relaxam. Quando a atenção se estreita para tricotar-meia-tricotar, o volume da catastrofização baixa. E como ficas com um objeto—um gorro torto, um cachecol ondulado—a mente regista a sessão como tempo bem passado. Isso é uma sensação rara numa era de aplicações baseadas em ciclos intermináveis.

Como começar sem pressão

Começa com lã grossa e agulhas de 8–10 mm. Monta 20 pontos, aprende o ponto de tricot e faz um cachecol que pareça uma torrada. Dez minutos por dia durante sete dias são melhores que um domingo heroico que te acaba por esgotar. Combina a respiração com os pontos—inspira ao inserir a agulha, expira ao tirar a laçada.

Deixa os ombros relaxados. Se a lã chiar, estás a tricotar demasiado apertado; se o tecido parecer muito furado, está demasiado solto. Altera apenas uma variável de cada vez—tamanho da agulha, tipo de lã ou tensão—não todas. Deixa os erros ficarem uma ou duas carreiras para aprenderes a identificá-los em andamento. A verdade é que ninguém faz isso todos os dias.

Podes sentir-te estranho ao início. Isso passa mais depressa do que achas.

“Quando a minha cabeça está a girar, tricot é a única coisa que faz a sala ficar em silêncio”, disse Aisha, 22 anos. “Consigo voltar a ouvir-me.”
  • Escolhe uma cor que combine com o teu estado de espírito—azul calmo, castanho que te prende à terra, vermelho-cereja vivo.
  • Define uma pequena meta: quatro carreiras, uma chávena de chá, feito.
  • Guarda um “quadrado de prática” para que o progresso não dependa da perfeição.
  • Junta-te a um grupo descontraído; conversar ajuda a libertar a mente.

Mais do que um ofício: uma revolução social suave

No TikTok, os clips com a hashtag #tricot aparecem como micro-meditações—mãos, fio, um compasso—partilhados por quem cresceu online e está cansado. As caixas de comentários parecem terapia de grupo, mas com camisolas melhores. Amigos trocam padrões por mensagem privada. Colegas de casa montam um cesto comunitário de lãs junto à chaleira. Todos já tivemos aquele momento em que o brilho do ecrã parece mais alto do que a sala.

Para alguns, tricotar é ativismo silencioso: recusar-se a monetizar todos os passatempos, preferir um valor mais lento. Para outros, é luto ou gestão da ansiedade, fila a fila. Há dignidade em fazer algo que mantém alguém quente, até a ti próprio. A técnica é ancestral, sim, mas funciona como um corrimão moderno—portátil, acessível e indulgente. O objetivo não é a perícia; é perceberes que no fim de uma carreira és um pouco mais gentil contigo próprio.

É isso que a Geração Z parece estar a dizer: a mente cura-se em voltas. Não porque a vida se torne arrumadinha, mas porque criar dá sentido onde a linha temporal não dá. Numa cultura de resultados instantâneos, tricot devolve o prazer de esperar. Progresso que se pode tocar vale mais do que progresso que só se atualiza. É um pequeno hábito com um grande efeito pós-prática—e é difícil não contar a alguém quando tens as mãos quentes e a cabeça leve.

Ponto-chaveDetalheInteresse para o leitor
A repetição acalma o sistema nervosoO ritmo tricot–meia ativa a resposta de repouso e digestãoPerceber porque a tua mente está mais calma depois de algumas carreiras
Começa pequeno e tátilAgulhas grossas, lã macia, sessões de 10 minutosPequenas vitórias sem sobrecarga ou perfeccionismo
A comunidade multiplica o efeitoGrupos no campus, noites de tricot em cafés, threads de #tricotResponsabilidade partilhada e conversa descontraída

Perguntas frequentes:

  • O tricot ajuda mesmo na ansiedade?Muita gente sente-se mais calma depois de sessões curtas. O foco repetitivo e tátil funciona quase como uma meditação em movimento.
  • O que deve um principiante fazer primeiro?Um cachecol em ponto de tricot ou um pano de cozinha. Linhas direitas, um ponto, progresso rápido e percetível.
  • Quanto tempo até começar a “entrar no ritmo”?Geralmente, uma semana de prática curta. A memória muscular instala-se discretamente, e depois já se trica a conversar ou no comboio.
  • Tricot ou crochet para a saúde mental?Ambos ajudam. O crochet usa uma só agulha e avança depressa; o tricot tem um ritmo envolvente. Experimenta os dois e segue o que as tuas mãos preferirem.
  • Preciso de lã cara?Não. Um fio macio, de preço médio, em acrílico ou mistura de lã é perfeito para principiantes. Guarda os fios de luxo para quando dominares a tensão.

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