Estes são os Mangrove Photography Awards 2025: vinte imagens que cheiram a sal e lodo, que cintilam com o calor, que sussurram fica atrás. Beleza, sim. Mas também dentes.
Abri a galeria no silêncio ténue antes do nascer do sol, o telhado de zinco a tremer com o vento nocturno lá fora. O primeiro enquadramento bateu como um tambor: uma cabeça de réptil do tamanho de um bote, olhos ao nível, focinho marcado e coberto de gotas salobras. Quase se ouvem as cigarras e o suave estalar das raízes sob a maré.
Todos já tivemos aquele momento em que uma foto passa de “gira” para algo que se sente nas costelas. Este conjunto está cheio dessas. O grande crocodilo, uma tempestade vista de lado, um miúdo a caminhar com uma armadilha para caranguejos como se pesasse tanto como a sua esperança. A foto do crocodilo faz parar o scroll. Ponto final. Não se consegue piscar os olhos.
Quando a beleza te devolve o olhar
Vinte imagens, vinte formas de o planeta respirar. Mangais que parecem pulmões vistos de drone. A palma da mão de um pescador cortada numa raíz coberta de cracas. O crocodilo, colossal e paciente, um soberano indiferente a quem mede a sua extensão.
Numa imagem, a chuva inclina-se com força numa lagoa venezuelana enquanto uma mulher amarra o seu barco a uma raiz de mangue. Noutra, uma garça eleva-se como fumo quando uma onda passa sob as raízes negras. *É aqui onde beleza e perigo se cruzam.* Estudos mostraram que os mangais podem atenuar a energia das ondas até dois terços em cem metros, mas não conseguem anular a surpresa de um réptil.
É por isso que estas imagens parecem eléctricas. São feitas ao nível dos olhos, onde é menos confortável e mais verdadeiro. Estão próximas o suficiente para se contar as escamas, largas o bastante para se sentir o horizonte inclinar-se. O perigo real vibra nestas zonas húmidas. Os fotógrafos mantêm-se na linha ténue: suficientemente perto para revelar a verdade, longe o suficiente para regressar a casa.
Como os fotógrafos captam a imagem sem se tornarem a história
O método começa antes de sacar da câmara. Ler a maré como um relógio e dar-lhe minutos extra. Trabalhar com um guia local que saiba onde os velhos crocodilos aquecem ao sol e onde o lodo passa de firme a traiçoeiro. Lentes longas, obturador silencioso, posição baixa e saída desimpedida.
Nunca se deve avançar às cegas por campos de raízes. Plantar os pés, testar o solo, ouvir tudo. Mover-se quando o animal se move; parar quando este pára. Sejamos honestos: ninguém faz isto todos os dias. Por isso, escreva o seu plano, partilhe-o com alguém em terra, e mantenha-se à luz do dia se o instinto lhe disser que a zona de estuário parece errada.
O equipamento conta, mas o discernimento conta ainda mais. Um saco estanque com um apito vale mais que um estabilizador topo de gama durante uma borrasca repentina. Deixe o isco em casa: rende uma foto e destrói o respeito.
“A melhor foto é aquela que se leva para casa para partilhar”, disse-me um veterano à beira de um mangal. “Tudo o resto é sorte disfarçada de coragem.”
- Leve consigo uma captura de ecrã da tábua de marés e um mapa offline.
- Use uma objetiva de 400–600 mm para crocodilos; mantenha pelo menos 50–70 metros de distância, se possível.
- Ajoelhe-se atrás das raízes, não à sua frente; as raízes são o seu escudo.
- Se um crocodilo se submergir e reaparecer mais próximo, recue em linha reta. Não lhe vire costas.
- Pergunte aos pescadores onde eles evitam ir. E evite também esses sítios.
O que dizem estas 20 imagens sobre nós
Os mangais são santuários caóticos e estas fotografias não os tornam mais limpos. Isso é positivo. Vêem-se redes remendadas pela quinquagésima vez. Plástico preso a uma raíz exposta como uma confissão brilhante. Uma criança com água até aos joelhos, a calcular se aquela ondulação é vento ou algo a respirar. A fotografia pode salvar habitats quando as histórias nos agarram.
Uma imagem sugere porque é que devemos agarrar essas histórias: os mangais armazenam até quatro vezes mais carbono que muitas florestas tropicais, solo que guarda séculos de trabalho silencioso. Outra mostra o lado de fortaleza, uma orla de árvores que amortece a força de uma maré de tempestade para que um povoado não perca tudo — pelo menos, por hoje. E o crocodilo? Lembra-nos que isto não é um zoo. É um espaço sem fronteiras, com regras mais antigas que os nossos mapas.
Estas imagens não pedem pena. Pedem presença. Olhar demoradamente, sentir o sal nos lábios, partilhar o link com quem acha que zonas húmidas são “apenas pântanos”. Pode nunca chegar a estar com água até aos joelhos num labirinto de raízes, mas pode levar a história no bolso. E talvez andar um pouco mais devagar onde a água encontra terra.
Falamos de composição e de luz como se fossem feitiços mágicos. Mas o verdadeiro feitiço é a atenção. É a pausa antes de clicar no gosto. O segundo olhar. A pequena sensação de que este lugar pode ser ao mesmo tempo escudo e armadilha, berçário e campo de caça. O olhar do crocodilo não acusa; avalia. Veio para observar. Ele observa desde sempre.
Então o que fazemos com esse olhar? Podemos aprender a ler as marés das nossas próprias vidas, recuar quando a água sobe, deixar espaço para o que é maior que nós. Podemos ajudar o trabalho que mantém raízes no lodo e pessoas em casa. E podemos contar melhores histórias, com arestas e sombras, que resistam à falsa conclusão fácil do “problema resolvido”. As melhores imagens não fecham um processo. Abrem uma porta.
| Ponto-chave | Detalhe | Interesse para o leitor |
| Imagem de crocodilo gigante | Fotografada ao nível dos olhos com teleobjetiva, mostrando escala e textura reais | Perceber porque certas fotos de vida selvagem parecem viscerais e inesquecíveis |
| Poder dos mangais | Raízes reduzem energia das ondas, armazenam “carbono azul” de alta densidade | Ligar a beleza à proteção real contra tempestades e alterações climáticas |
| Segurança e ética | Distância, guias locais, sem isco, planeamento com prioridade à maré | Passos práticos para desfrutar fotografias de vida selvagem sem riscos ou danos |
Perguntas Frequentes:
- O que são os Mangrove Photography Awards 2025? Uma mostra global de imagens que celebra os ecossistemas dos mangais, as pessoas que lá vivem e a vida selvagem protegida por eles — a seleção deste ano foca momentos crus e de alto risco.
- Onde posso ver as 20 imagens destacadas? No site oficial dos prémios e em galerias de parceiros de conservação; muitas são também partilhadas nas redes sociais e em exposições virtuais optimizadas para mobile.
- Quão perigosos são os crocodilos de água salgada nos mangais? São predadores de topo com velocidade explosiva na água e à beira dela. Mantenha sempre distância, evite margens mal iluminadas e nunca entre zonas conhecidas de descanso ou nidificação.
- Que equipamento fotográfico é melhor em mangais? Corpos selados contra intempéries, objetivas de 400–600 mm para vida selvagem, uma grande angular para contexto, sacos estanques, panos microfibra e saquetas de sílica para combater humidade e sal.
- Como posso apoiar a conservação dos mangais a partir de casa? Doando a grupos locais de restauro, partilhando informação credível, reduzindo plásticos descartáveis que frequentemente acabam nos estuários e votando em políticas que protejam zonas húmidas costeiras.
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