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Adolescentes no Reino Unido usam câmaras antigas para criar conteúdos nas redes sociais, pois dizem que os filtros não conseguem replicar esse visual.

Quatro jovens de uniforme escolar olham juntos para uma câmara digital na rua perto de um autocarro vermelho.

Eles estão a publicar fotos que parecem de 1999 e recusam-se a dizer como as fizeram. Não para serem misteriosos, mas porque a magia funciona melhor assim, não dita.

É uma terça-feira chuvosa depois das aulas em Manchester. Um grupo de alunos do secundário acolhe-se debaixo de um abrigo de autocarro, mangas puxadas, cabelo húmido, alguém a trautear um refrão do Skepta. Em vez de telemóveis, ouve-se o clique de uma Olympus prateada, depois o pequeno motor a zumbir enquanto o filme avança — um *clique suave que se sente na palma da mão*. Ninguém verifica ecrãs. Limitam-se a sorrir, e depois passam a câmara como se fosse um aperto de mão secreto.

Mais tarde, as fotos aparecem nas stories do Instagram e nas listas de amigos chegados. Flash suave. Tons de pele quentes. Um ligeiro desfoque que, de alguma forma, diz a verdade. As legendas não mencionam a câmara. Os telemóveis ficaram nos bolsos.

O regresso discreto do filme às timelines dos adolescentes

Se tens visto fotografias nocturnas esbatidas e retratos diurnos cheios de cor nas redes do Reino Unido, há uma razão silenciosa. Os adolescentes andam à caça de câmaras compactas em lojas de caridade, da velha Canon Sure Shot da tia, da SLR “desengonçada” do pai, e usam-nas como se fossem contrabando. É menos nostalgia e mais fuga — uma forma de contornar a mesmice das fotos de telemóvel e a pressão de acertar à primeira.

Uma rapariga de dezasseis anos em Leeds encontrou uma Nikon One-Touch na gaveta da cozinha e começou a levá-la a concertos. Um rapaz em Croydon leva uma Yashica T4 para os jogos de futebol, com a janela de focagem colada e tudo. Uma estudante em Bristol compra Kodak Gold fora de prazo numa banca de feira. Uma semana depois, recebem os scans dos laboratórios com nomes que dá gosto dizer — Snappy Snaps, Take It Easy Lab, Analogue Wonderland — e depois dão título ao post como se fosse um lançamento de mixtape.

Também é prático. Algumas escolas têm regras rígidas quanto ao uso do telemóvel. Uma pequena câmara de rolo parece um brinquedo e o ritual faz o momento abrandar, tornando-o digno de guardar. Cresce a antecipação. Quando chegam as imagens, sentem-se merecidas. E quando alguém pergunta: “Qual é o filtro?”, respondem com um encolher de ombros, porque dizer “rolo” é dar início a uma discussão desnecessária numa quinta-feira à tarde.

Porque é que os filtros nunca fingem aquele toque de filme

Há ciência e há desordem. O filme não captura pixéis; banha cristais sensíveis à luz, ou seja, as altas luzes esbatem em vez de explodirem em branco. Aquele brilho à volta das luzes numa festa? Muitas vezes é a halação de certos tipos de filme, como o Cinestill 800T. Lentes antigas criam véus de baixo contraste com grandes aberturas. As falhas parecem vivas porque não são aplicadas em pós-produção — nascem logo à captura.

Os telemóveis tentam imitar isto com LUTs, camadas de grão e desfoques artificiais. Aproximam-se, mas perdem-se no olhar e na margem da pele. O afiar automático exagera, o suavizador de pele passa dos limites e as sombras perdem-se no ruído. O filme confia na **gama dinâmica** e no micro-contraste analógico. Aguenta luz má e perdoa mãos a tremer. Esse perdão soa a humano.

Depois há a física do flash. As compactas costumam disparar um pequeno clarão direto com temperatura de cor quente, a refletir-se por paredes de forma imprevisível. Nos sensores e processamento nos telemóveis, o flash é domado para ficar “bonito”. O filme deixa-o ser barulhento. Ficas com a **estrutura do grão** que se mistura com as caras em vez de pairar sobre elas. E por vezes — quando entra luz ao carregar — surgem **fugas de luz** genuínas. Nenhum filtro imita verdadeiramente o acaso.

Manual adolescente: pequenos gestos, grande impacto

Se vais experimentar com a câmara do avô, começa simples. Carrega filme ISO 400 como Kodak Gold ou Ilford HP5 — versátil para o clima britânico e tolerante a erros. Usa o flash interno em interiores, mas recua um metro para evitar frentes radiativas. À luz do dia, as point-and-shoot fazem o seu trabalho: fica à sombra, carrega no obturador, não penses demais.

Ao deixar os rolos no laboratório, pede “scans planos” sem contraste exagerado. Scanners Noritsu dão um aspeto mais suave; os Frontier são mais intensos. Se as altas luzes parecem demasiado fortes, avisa. Guarda os negativos. Alguns adolescentes experimentam um rolo puxado para 800 à noite — dá textura sem caos total. Deixa o laboratório tratar do push; tu foca-te nos momentos.

Os erros comuns são aborrecidos mas têm solução. Carregar mal o rolo faz parte do processo. Também esquecer desligar a marca de data e ficar com 2024 gravado num suposto registo de 1998. E já todos passámos por aquela noite em que percebemos que a lente esteve com uma impressão digital. Limpa-a. Respira. Vamos ser honestos: ninguém faz isto todos os dias.

Um técnico de laboratório londrino resumiu:

“Os adolescentes entram discretos, levantam os scans e saem a sorrir. Querem a surpresa. O telemóvel não lhes dá isso.”
  • Começa com um rolo por mês. A espera faz parte do ritmo.
  • Pede ao laboratório “sem suavização automática de pele” nos pedidos de scan.
  • Publica primeiro a folha de contactos. Tem pinta e dá-te tempo.

O que muda quando a câmara te faz abrandar

As fotos não são só mais bonitas. Mudam o ambiente. Uma câmara vintage num grupo de amigos serve de pequeno âncora: as pessoas aproximam-se, seguram o olhar um segundo extra e riem com mais vontade. Tiras menos fotos, mas melhores. A seleção é uma necessidade, não um conselho de um guru da produtividade.

Alguns adolescentes guardam o método em segredo. Gozam o facto de saberem que as imagens não foram montadas por um algoritmo. Outros partilham, mas tratam o filme como recurso limitado, reservando-os para concertos, aniversários, últimos dias de aulas. Alguns percorrem ambos os mundos — fotografam em filme, depois acrescentam um pouco de grão digital para manter o feed consistente. A ironia não lhes escapa.

Se há uma mensagem maior, é sobre posse. Estes adolescentes cresceram hiper-documentados pelos telemóveis dos outros. O filme troca as voltas. Carregá-lo, falhar, lembrar. O custo dói um pouco — o que faz as escolhas parecerem sérias. E quando um scan chega com aquele flash torto e um amigo a meio sorriso, não precisa de legenda. Já disse aquilo que veio dizer.

Ponto-chaveDetalheInteresse para o leitor
As compactas vintage estão de voltaOs adolescentes usam Olympus, Canon e Yashica point-and-shoots para o quotidianoSabe que câmaras criam esse ambiente nostálgico sem complicações
O filme vence os filtros logo à partidaO desvanecimento dos brilhos, a halation e o comportamento do flash vêm da captação, não da ediçãoPercebe porque o telemóvel nunca finge realmente o filme
Os laboratórios moldam o resultado finalScans Noritsu vs Frontier, perfil suave ou contrastado, opções de push/pullPede scans que combinem com o teu gosto e evita processamentos bruscos

Perguntas frequentes:

  • Que câmara deve um adolescente iniciante procurar?Começa com uma point-and-shoot simples como a Olympus Mju, Canon Sure Shot, ou qualquer compacta fiável dos anos 90 com flash.
  • O filme não é muito caro?Pode ser, por isso doseia. Um rolo por mês, partilhado entre amigos, reduz o custo e mantém o ritual especial.
  • Como é que consigo aquele tom suave à noite?Usa filme ISO 800 ou empurra um ISO 400 um ponto, dispara com o flash da câmara e fica um pouco atrás para dar espaço ao fundo.
  • O telemóvel pode alguma vez igualar o filme?Os telemóveis aproximam-se das cores e do grão, mas o modo como o filme gere a luz e o micro-contraste só se cria ao captar, não depois.
  • Onde desenvolvem os adolescentes os rolos no Reino Unido?Lojas como a Snappy Snaps são rápidas; laboratórios independentes como Take It Easy Lab, Analogue Wonderland ou FilmDev dão mais estilos de scan ao gosto do freguês.

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